O isolamento social causado pela pandemia da Covid-19 e o trabalho remoto ou híbrido seguem empreendendo uma dinâmica particular ao mercado imobiliário, em especial a algumas regiões do litoral e interior do Estado de São Paulo. Este movimento foi percebido recentemente em uma análise elaborada pela DataZAP+, que apontou, em contrapartida, uma queda acentuada na participação das buscas de apartamentos para locação e venda na cidade de São Paulo, em comparação a algumas cidades do litoral e do interior do Estado.

Este é o caso de Antonio Marcos dos Santos, 45 anos, geógrafo, que se mudou para o Guarujá em maio deste ano. Entre as motivações para trocar a capital pelo litoral, ele cita a dificuldade para caminhar e se exercitar, o inverno com temperaturas baixas e os preços dos imóveis. “Estou a 100 km de São Paulo e ganhei quatro graus de temperatura média. Tenho um lazer mais fácil e simples. A orla é um atrativo, convida a caminhar. Aqui tem ciclovias, voltei a andar de bicicleta. Em São Paulo você anda disputando espaço com os carros. Não era agradável”, reflete.

Trabalhando remotamente, Antonio assinou um contrato de aluguel por três anos e não considera voltar a morar em São Paulo no curto prazo. “O custo de vida não cai. O que difere em termos de preço é o valor do imóvel. Em São Paulo, o morar com qualidade é caro. Pelo preço de um imóvel na periferia você consegue morar numa cidade como o Guarujá a cinco quarteirões da praia.”

Para Vanessa Ferraz da Silva, 32 anos, a qualidade de vida também falou mais alto. A psicóloga e consultora de Recursos Humanos se mudou com o namorado em junho deste ano para Sorocaba. “A pandemia, somada ao fato de não sairmos e ficarmos presos em um apartamento, foi o fator decisivo para uma mudança de cidade. Estarmos 100% em home office também nos facilitou muito esse movimento.” 

A lista de vantagens é grande, explica Vanessa: é mais barato, oferece melhor qualidade de vida e garante mais segurança para a família – além da quantidade de familiares que vivem em outras partes do interior de São Paulo. “Quero muito ser mãe e criar meus filhos mais livres, seguros. Hoje moro em um condomínio fechado, em uma casa deliciosa e tenho o mesmo gasto com o aluguel que tinha morando em um studio em São Paulo, na zona leste”, conta.

 
Locação 

Considerando o total de buscas por apartamentos na capital, interior e litoral de São Paulo, os dados mostraram uma queda de 4,31 pontos percentuais na importância relativa na procura pela capital paulista durante o segundo trimestre de 2021, em comparação com o mesmo período do ano passado. Já nas cidades do litoral do Estado – Santos, Praia Grande, Guarujá, São Vicente, Bertioga e Caraguatatuba – e nos centros urbanos do interior paulista – Campinas, Jundiaí, São José dos Campos, Sorocaba, Ribeirão Preto e Piracicaba – houve aumento da participação das buscas de 1,49 p.p. e 2,37 p.p., respectivamente. Nesta mesma análise, a procura por casas para locação cresceu 0,66 p.p., em São Paulo; e 0,90 p.p., no litoral (veja o gráfico abaixo).

 

No entanto, a capital paulista segue liderando com folga o mercado de locação, tanto para apartamentos quanto para casas. Com 71,7%, para apartamentos, e 71,8%, para casas, a busca relativa por imóveis para locação em São Paulo está à frente do interior, com 18,6% e 22,9%, respectivamente; e litoral, com 9,7% e 5,3%, nesta ordem (confira o gráfico abaixo).

Compra e venda 

Quando o assunto é o mercado de compra e venda de imóveis, a cidade de São Paulo apresenta perdas de participação de demanda por apartamentos (3,33 p.p) e casas (3,87 p.p). Já o segmento de casas em cidades do interior e litoral registrou crescimento, respectivamente, de 0,31 p.p. e 3,02 p.p., no segundo trimestre (confira o gráfico abaixo).

Apesar das perdas, a praça paulistana continua concentrando a maior demanda do mercado imobiliário do Estado. São Paulo detém 72,4% das buscas por apartamentos para compra e 59,3%, de casas; enquanto o interior registrou 12,2% e 28%, respectivamente; e o litoral, 15,4% e 12,6%, nesta ordem.